terça-feira, 3 de julho de 2012

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7/3/2012

domingo, 25 de março de 2012

Nossa pobre industria vinicola está ameaçada - Jornal Valor Econômico

Por Jorge Lucki
O assunto do momento, altamente preocupante, no mercado de vinhos no Brasil é o processo aberto oficialmente quinta-feira da semana passada, conforme circular publicada pela Secretária de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), para investigar a necessidade de aplicação de medidas de salvaguarda sobre as importações de vinho que, supostamente estariam causando graves prejuízos à indústria vinícola nacional.
O pedido foi encaminhado em conjunto pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), pela União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), pela Federação das Cooperativas do Vinho (Fecovinho), e pelo Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul (Sindivinho), e se baseia numa série de dados e argumentos para pleitear severas sanções aos vinhos importados, que vão desde o aumento 27% para 55% no imposto de importação até a imposição de cotas para cada país.
É, imagino, a última cartada dos produtores nacionais, melhor dizendo, um grupinho deles - principalmente Miolo, Salton (que saudades do Angelo), Aurora e Valduga -, para tentar aumentar sua participação no mercado, depois de utilizarem toda sorte de manobras para estorvar a entrada de vinhos importados. Até então as tentativas foram mais de ordem burocrática, caso da luta para implantar o selo fiscal e da pressão que resultou em necessidade de emissão de licença de importação, L.I., providência que têm que ser encaminhada com 60 dias de antecedência para que a mercadoria possa embarcar.
A propósito, essa última medida, vigente desde o ano passado, atingiu vinhos chilenos e argentinos. Colocada em prática de surpresa, causou grande confusão e desabastecimento no início, até as importadoras conseguirem se programar com antecedência, como ocorre hoje. Não parou aí, porém. O mais recente e irritante imprevisto, tornado conhecido nesta terça-feira enquanto estou escrevendo a presente coluna, e vigorando de imediato, estende a necessidade de L.I. para todos os países europeus, atingindo, assim, até contêineres prestes a seguir viagem. Isso implicará, às importadoras, quebra de estoques e impossibilidade de atender compromissos assumidos, assim como acarretará prejuízos diretos, diante da obrigatoriedade de arcar com os custos de armazenagem nos portos de saída.
Desde a divulgação das salvaguardas, há uma semana, portanto, colegas do setor fizeram circular internamente pelos diferentes meios digitais mensagens de protesto e indignação, algumas mais veementes, outras mais complacentes. Confesso que nesse meio tempo balancei entre as duas posturas, pendendo agora mais para a primeira depois de saber da norma sobre a indispensabilidade de licença de importação para vinhos europeus mesmo em vias de embarcar. É muita arbitrariedade e desrespeito ao empresário que paga impostos (que são mal empregados). Embora seja dispensável qualquer associação, toda essa desfaçatez me fez lembrar de um artigo escrito por jornalista russo da área - a admirada Jancis Robinson fez publicar em seu site (www.jancisrobinson.com) -, revoltado com desmandos muito menos relevantes arquitetados por órgãos governamentais russos. Mal sabe ela o que se passa aqui.
Ao recordar de uma velha frase que me foi dita por um sábio produtor francês - "a raiva não é boa conselheira" - recuperei a serenidade e mergulhei no tema central de hoje. Afinal, quais argumentos levados pelos representantes de (alguns) produtores brasileiros sensibilizaram o secretário do Comércio Exterior a ponto de ele decidir levar adiante a investigação sobre a necessidade de impor salvaguardas contra os vinhos importados?
Para começar, o que me chama a atenção é que eventuais medidas favoráveis à indústria nacional vão contemplar em especial os vinhos europeus (australianos e neozelandeses também, mas são menos importantes no ranking de importações), isentando argentinos e chilenos, os verdadeiros concorrentes dos vinhos nacionais. Ainda que o Chile possa ser atingido pela implantação de um sistema de cotas, suas consequências são pouco significativas. Entre outros motivos porque o critério de cotas é mafioso, só os grandes conseguem entrar, exatamente aqueles cujos vinhos têm preço mais baixo. Ficam de fora os rótulos de pequenos produtores, os melhores e diferenciados, que são para apreciadores mais exigentes, os quais as vinícolas nacionais não alcançam.
No documento enviado ao Mdic, os peticionários - forma como os representantes da indústria vinícola brasileira são denominados no processo -, para dirigir o foco aos rótulos do Velho Mundo, sustentam no item 4.3.1 que a crise "provocou queda no consumo de vinhos desses países a partir de meados de 2009 (...) e os consequentes aumentos dos estoques levaram esses exportadores a buscarem mercados alternativos para desova de seus produtos. Por consequência, o excesso de oferta provocou redução nos preços, muitos dos quais acabaram sendo vendidos a custos variáveis, pois o custo de estocagem de um produto como este é muito elevado. Veja o caso da Itália, que em 2010 exportou para o Brasil vinhos italianos a preços similares ao custo de produção da indústria nacional. Na esteira do desenfreado crescimento das importações, motivado por excesso de oferta, os preços caíram, obrigando os intermediários locais, a fim de evitarem estocagem, a desovar seus produtos importados a preços mais reduzidos ainda. Assim, no mesmo sentido destes também, os varejistas reduziram os seus preços de vinho fino por terem mais gordura para isso, vez que a lucratividade, mesmo assim, ainda era substantiva".
Não sei se é absoluto desconhecimento de como trabalham os produtores europeus (e os importadores brasileiros), ou se vale colocar no papel - oficial, protocolizado - qualquer bobagem e ela causará impacto, acreditando não ser possível provar o contrário. Ainda que isso não me caiba e eu nem tenha documentos para mostrar - as duas associações de importadores, a Abba e a Abrabe, mais a Abras, Associação Brasileira de Supermercados, têm prazo de 40 dias para defender seus interesses -, basta verificar se surgiram rótulos novos por aqui nesse período, se eles foram vendidos por valores inferiores aos similares existentes e se estes tiveram seus preços reduzidos. Quem dera fosse verdade.
Continuando no mesmo item, os representantes da indústria vinícola brasileira afirmam: "Tal inflada de mercado provocou vertiginoso aumento do consumo de 31,01% sobre o volume consumido no ano anterior. Por consequência, os varejistas, ao reduzirem os seus preços, afetaram toda a cadeia produtiva provocando aumentos de estoque e queda de preços, além de a indústria nacional não conseguir sequer recuperar a inflação do ano passado. O comportamento das importações no ano de 2010, portanto, foi resultado de fato completamente imprevisto, resultado da crise internacional, que se fez sentir no mercado dos países consumidores de vinho em 2009, e tiveram reflexos diretos no setor vitivinícola no Brasil com extrema intensidade em 2010. Por a economia brasileira não ter sofrido seus efeitos de forma tão severa, o vinho estocado no mundo acabou por desembarcar no Brasil".
Nesse aspecto, os responsáveis pela elaboração da petição demonstram, no mínimo, incapacidade de analisar e interpretar os dados de importação. Em 2009, o volume de vinho importado de Itália, Portugal e França decresceu, recuperando-se com alguma sobra em 2010. Isso se deveu, fundamentalmente, a antecipações das importações em função da iminência da implantação do selo fiscal (!), previsto para entrar em vigor em janeiro de 2011. O que houve, na realidade, foi uma retomada da progressão dos anos anteriores. Ainda assim, o único país a dar um salto acentuado foi o Chile, em particular pela Concha Y Toro, que havia se instalado no Brasil e tinha cacife para adiantar os embarques.
No item 2.3, o documento faz menção à similaridade entre o produto importado e o nacional para provar que o primeiro concorre diretamente com os elaborados no Brasil, já que "são produzidos a partir de uvas vitis vinífera, possuem características semelhantes e destinam-se ao mesmo mercado, sendo inclusive comercializados em embalagens semelhantes (citar embalagens semelhantes é demais)". Tudo isso é infantil e vai contra toda a magia e cultura do vinho, que é baseado em diferenças de terroir e de características. Foi exatamente essa diversidade que permitiu, a partir da abertura das importações, incitar o consumidor a exercitar seu paladar, com reflexos no aumento do consumo de vinho e na melhoraria do que lhes era oferecido. Isso, não podemos esquecer, mudou (para muito melhor), inclusive, o cenário vitivinícola brasileiro, até então dominado por multinacionais e seus vinhos de quinta categoria. O aumento do interesse e, consequentemente, da cultura do vinho no Brasil abriram novas frentes de trabalho, tanto do lado da produção - eles, em parte admitem - quanto dos serviços.
Os peticionários reconhecem a evolução no consumo nacional de vinho - "considerando os anos extremos da série (2006 e 2010), verificou -se crescimento de 30,4% no consumo nacional de vinho" - e que "tanto as vendas domésticas quanto as importações seguiram a tendência de comportamento observada em relação ao consumo". Mas, esquecendo-se das razões que levaram ao aumento das importações em 2010 (citadas mais acima), apontam (no mesmo ítem 4.2) que "ante ao crescimento de 20,6% no consumo nacional de vinho, de 2009 para 2010, as vendas domésticas cresceram 2%, enquanto as importações aumentaram 26,9%".
Vale em todo caso ressaltar que a aludida perda de fatias de mercado por parte das vinícolas nacionais se refere a vinhos finos - os elaborados com uvas vitiviníferas, "similares aos importados" - que representa apenas 10% da produção brasileira. Se for levado em consideração o total de uvas colhidas, a proporção se inverte, 78% contra 22%, aproximadamente. Significa dizer que são pequenos, senão quase inexistentes, os reflexos da queda de participação dos vinhos finos nacionais na cadeia empregatícia do setor. Por outro lado, eventuais medidas desfavoráveis ao vinho importado trarão sérias consequências no mercado de empregos, não só diretos, mas igualmente no que gira em volta, caso de restaurantes, casas especializadas e publicações.
Por fim, cabe perguntar quem ganha com tudo isso? Só os grandes, aparentemente. O item 10 da petição, que elenca uma série de compromissos por parte da indústria nacional, fala de uma "reestruturação competitiva do segmento produtor de vinhos finos brasileiros", todos eles passíveis (?) de serem cumpridos por empresas de porte. Os tópicos não dão espaço aos pequenos produtores. Citam "novas plantações em regiões relativamente planas, que viabilizariam a intensificação de plantios de videiras em grande escala, possibilitando a otimização do maquinário, e com a redução dos gastos de produção, em virtude principalmente de menores custos de tratamentos contra as doenças da uva. Assim procedendo se conseguirá reduzir os custos em 35% (?) nessas novas regiões quando comparadas às regiões tradicionais de cultivo". Reforçam minha tese no parágrafo que diz: "Em outro contexto, mas com o mesmo espírito e determinação em promover ajustes e correções que deem maior competitividade ao setor vitivinícola, registra-se que esse setor vem lutando para melhorar sua competitividade frente ao produto importado através de aquisições, fusões e incorporações".
Os pequenos produtores vão ficar cada vez mais limitados a meros fornecedores de uva. Até porque eles têm dificuldade para cumprir com as exigências fiscais e sanitárias para conseguir o selo fiscal que lhes permite elaborar e comercializar seus vinhos. Não percebi em nenhum momento, antes e muito menos nesse documento, algum tipo de preocupação em facilitar-lhes a vida, como, por exemplo, pleitear seu enquadramento no Simples. Quando se fala de representantes do setor vinícola nacional deve-se entender com sendo porta-voz dos grandes.
E estes estão preocupados com produtividade, repetido várias vezes no item 10, que abrange "metas para o futuro". Não há qualquer menção à melhoria de qualidade. Vão assim conseguir, apenas com maior escala e baixa nos custos de produção, conquistar o consumidor brasileiro, seu maior objetivo? A estratégia de dificultar a entrada de vinhos importados e, agora, de procurar aumentar seus preços através da mudança no Imposto de Importação para conseguir melhor posição no mercado nunca deu e nem vai dar certo. Não creio que o consumidor, na falta ou pelo aumento de preço de importados, vai migrar para o vinho brasileiro.
O pedido de salvaguardas está em fase de análise. Diante da inconsistência dos argumentos apresentados pela indústria nacional, creio que não será aprovado. Ao menos se a decisão for técnica. Se for política, fico na esperança de virem pressões de fora.
Jornal Valor Econômico - 22/03/2012.

sábado, 24 de março de 2012

Cave Geisse se posiciona contra a adoção de salvaguardas ao mercado de vinho

Prezados Amigos,

"Somos absolutamente contrarios a qualquer ferramenta que possa prejudicar o consumidor bem como a evolução do consumo de vinhos de qualidade no Brasil, que sem sombra de dúvida teve uma grande evolução nos últimos anos graças aos esforços realizados tanto pelos produtores brasileiros quanto pelos importadores que trabalham diariamente auxiliando na evolução dos consumidores de vinhos. Temos que agradecer que hoje no Brasil podemos encontrar uma diversidade enorme de estilos e regiões para apreciar e desenvolver nosso paladar, aprendendo a diferenciar o que cada região pode entregar de melhor com suas características e principalmente sua tipicidade. Sempre nos posicionamos contrários a qualquer barreira protecionista, afinal, o vinho é um dos produtos mais globalizados que existe e o apreciador quer poder tomar a maior diversidade de rótulos possível e aos melhores preços possíveis, e essa deve ser a verdadeira luta de nós produtores brasileiros! melhorar nossa posição, não procurando meios para dificultar a entrada ou de tornar os vinhos importados mais caros ao consumidor, e sim, através de uma justa redução na pesada carga tributária imposta aos produtores brasileiros, pois afinal estamos falando de alimento e cultura!

Somente conseguiremos aumentar o bolo do consumo de vinhos e espumantes de qualidade no Brasil através de um trabalho conjunto somando as forças dos importadores e dos produtores brasileiros de qualidade em prol do aumento do consumo de vinhos no Brasil. Esta evolução tanto do consumidor como dos produtores nos auxiliarão para um melhor direcionamento e amadurecimento do setor, através do investimento em produtos que tenham melhor aceitação, com características singulares que conquistem o consumidor pela sua inquestionável qualidade e estilo tanto no mercado brasileiro como mundial.

O vinho sempre foi sinônimo de união, acredito que é somente questão de tempo até todos se darem conta de que estamos absolutamente no mesmo lado, e unindo forças teremos um excelente caminho para o bom desenvolvimento da cultura do vinho no Brasil."

Daniel Geisse - http://www.cavegeisse.com.br/ 




Fonte: Blog Vinhos e Mais Vinhos

terça-feira, 20 de março de 2012

Carta aberta - Ciro de Campos Lilla - Mistral





Por incrível que pareça, surgem outra vez notícias a respeito da pressão dos grandes produtores gaúchos sobre o governo para que haja um novo aumento de impostos sobre o vinho importado, como se a gigantesca carga tributária atual não representasse proteção suficiente para o vinho nacional. Fala-se agora em "salvaguardas", como se a indústria nacional estivesse em perigo, em risco de falência, quando na verdade as notícias enviadas à imprensa reportam um grande crescimento de vendas. Afinal, é preciso definir qual discurso é o verdadeiro: o vinho nacional vai muito bem ou vai muito mal? Os comunicados e números oficiais dizem que vai muito bem, o que invalida o argumento a favor das "salvaguardas". Além do que, os impostos atuais já são altíssimos, e representam o verdadeiro grande inimigo do consumo de vinhos no Brasil.
Além do aumento de impostos  — pediu-se um aumento de 27% para 55% no imposto de importação, o primeiro da longa cadeia de impostos pagos pelo vinho importado — desejam também limitar a importação pelo estabelecimento de cotas para a importação de cada país. Ficariam livre das cotas apenas os vinhos argentinos e uruguaios. Incrível: cotas de importação para proteger ainda mais um setor, o de vinhos finos nacionais, que cresceu cerca de 7% em 2011 — ou seja, nada menos do que quase o triplo do crescimento do PIB brasileiroSe forem adotadas salvaguardas para um setor que cresceu o triplo do PIB em 2011,  que medidas de proteção se poderia esperar então para o restante da economia? Repito porque parece incrível, mas é verdade: pedem salvaguardas para um setor que cresceu cerca de 7% em 2011! É preciso dizer mais alguma coisa?!
Além de mais impostos e das cotas, os mesmos grandes produtores pedem também ainda mais burocracia, como se a gigantesca burocracia que já envolve a importação de vinhos no Brasil também não fosse proteção suficiente para o vinho nacional. Nem bem foi implantado o malfadadoselo fiscal e já se pede agora que o rótulo principal do vinho, o rótulo frontal, contenha algumas das informações que hoje já constam dos contra-rótulos obrigatórios. Essa nova medida, se for adotada, vai afetar — como sempre acontece com a burocracia no caso dos vinhos — apenas os vinhos de alta qualidade e pequenos volumes, já que os grandes produtores mundiais não terão nenhuma dificuldade em imprimir rótulos especiais apenas para o mercado brasileiro. Isso, por outro lado, obviamente não será possível para aqueles produtores que embarcam menos de 50 ou 100 garrafas de cada vinho para o nosso país. 
Para completar esse quadro preocupante, agora também são os vinhos orgânicos de pequenos produtores que têm sua posição ameaçada em nosso país. A partir de Janeiro deste ano, os vinhos orgânicos ou biodinâmicos — mesmo os certificados como tal em seus países de origem ou por órgãos certificadores internacionais — não poderão mais ser identificados como tal no mercado brasileiro, a menos que sejam certificados por organismo certificador brasileiro. Expressões como "orgânico", " biodinâmico",  "bio",  etc, são proibidas agora nos rótulos, privando o consumidor dessa informação essencial — com exceção dos vinhos certificados por organismo certificador brasileiro. Acontece que o processo de certificação brasileiro é caro e demorado, sendo na prática inacessível aos pequenos produtores do mundo todo. Acreditamos que apenas os grandes produtores mundiais conseguirão se registrar aqui como orgânicos ou biodinâmicos, privando assim o mercado do conhecimento de um número já muito grande e sempre crescente de produtores orgânicos. O vinho é um produto muito particular e específico, em que a maior parte da produção mundial de qualidade está nas mãos de produtores muito pequenos, que não terão recursos para obter a certificação brasileira. Sem dúvida acreditamos que é o caso de adiar a aplicação dessa medida para os vinhos, pelo menos até que sejam assinados acordos de reciprocidade, que permitam o reconhecimento mútuo dos processos de certificação no Brasil e no exterior. Afinal, a quem interessa dificultar a propagação dos vinhos orgânicos a não ser a quem não tenha a intenção de produzir vinhos dessa forma?
Diante desse panorama triste, a pergunta que se impõe é a seguinte: qual o limite para a proteção necessária aos grandes produtores nacionais para que possam competir no mercado? Ou tudo isso seria apenas uma busca por maiores lucros? Algumas das medidas adotadas recentemente, como o malfadado selo fiscal, atingem fortemente os pequenos produtores nacionais também. Vale repetir que os pequenos produtores brasileiros deveriam ter um papel importante no panorama vinícola nacional, uma vez que não existe país com alguma relevância no mundo do vinho onde o mercado seja dominado por apenas alguns grandes produtores. Afinal, todos nos lembramos do período anterior ao início dos anos noventa, quando o mercado pertencia a um pequeno grupo de gigantes da indústria nacional, a maioria multinacionais, e a alguns gigantes da indústria vinícola internacional — situação que obrigava o consumidor brasileiro a consumir vinhos caros e medíocres, quando no país nem sequer se sabia o que significava a palavra sommelier.
Estaríamos na iminência de uma volta a esse passado triste para o vinho em nosso país? Será que serão perdidos todos os ganhos dos últimos anos, quando, à custa de tantos esforços, aumentou enormemente a cultura do vinho no Brasil, com o surgimento de muitos milhares de profissionais ligados ao vinho, de inúmeras publicações sobre essa bebida maravilhosa, detantos novos empregos e de tantas novas possibilidades de crescimento profissional? Seriam os muitos milhares de brasileiros que trabalham nesse novo mercado criado pelo vinho importado, em particular o verdadeiro exército de sommeliers, menos brasileiros do que aqueles que trabalham nas grandes empresas produtoras de vinho nacional? E vale lembrar que de cada 5 garrafas de vinho consumidas no Brasil, entre vinhos finos, espumantes e vinhos comuns (produzidos com uvas de mesa), nada menos do que quase 4 (77.4%) já são de vinhos brasileiros! Os números de vendas e de crescimento do vinho nacional são gritantes, e tornam absurdo se buscar ainda maior proteção!
É importante que se compreenda o quanto antes que o vinho não é uma commodity, onde o único fator a influenciar a compra é o preço. Vinho é cultura, é diversidade, é terroir, é arte. É como o mercado de livros: o brasileiro lê pouco, assim como bebe pouco vinho. E dificultar a venda de livros de autores estrangeiros não apenas não serviria para aumentar a venda de livros de autores brasileiros, como certamente inibiria ainda mais o hábito da leitura. O mesmo ocorre com os vinhos. É uma ilusão achar que encarecendo o vinho importado o consumidor vai substituí-lo automaticamente pelo vinho nacional. Na verdade o mais provável é que substitua por outro vinho importado mais barato, ou pela cerveja gourmet, ou pelo whisky, por exemplo. O que é preciso é popularizar o consumo do vinho pela diminuição dos preços e da burocracia, tanto para os vinhos nacionais como para os importados. Na verdade eles são aliados, e não inimigos como acreditam aqueles que defendem um protecionismo ainda maior para o vinho brasileiro.

Ciro de Campos Lilla

terça-feira, 6 de março de 2012

Vinícolas brasileiras querem barrar importação de vinhos


A pedido das vinícolas brasileiras, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), decidirá, em março, a possível abertura de um processo de salvaguarda contra os vinhos importados. Os produtores nacionais esperavam para esta semana a abertura do processo, mas fontes do ministério ouvidas pelo Valor informaram que o prazo não é suficiente para conclusão do estudo técnico que precede a investigação.

A medida foi solicitada pelo setor vitivinícola em agosto de 2011 e no dia 16 deste mês, durante visita à Festa da Uva de Caxias do Sul, a presidente Dilma Rousseff prometeu tomar providências previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) contra práticas comerciais "assimétricas e danosas" à indústria nacional.

Os técnicos da secretaria de Comércio Exterior, encarregados de analisar o pedido da indústria nacional, não conseguiram ainda concluir o estudo técnico sobre a situação do setor e a ameaça dos importados, para caracterizar indícios de dano grave ou ameaça de dano aos produtores no país. Os técnicos querem ter em mãos sólidas evidências para sustentar as investigações, que podem ser acompanhadas de medida provisória com barreiras às importações de vinho. Calcula-se que essas investigações, ao final das quais seriam aplicadas salvaguardas definitivas, poderão durar pelo menos seis meses. O governo teme, ainda, que a abertura de processo para salvaguardas provoque uma indesejável antecipação de importações, e estuda maneiras de evitar essa reação dos comerciantes.

Segundo o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti, que também nesta semana participa da reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, Vinhos e Derivados, em Brasília, a situação atual é "insustentável". Em 2011, os importados dominaram 78,8% do mercado legal de vinhos finos no país, que totalizou 92,2 milhões de litros, participação semelhante aos 79,4% de 2010.

Em 2005, a fatia era de 63,1% e desde lá até 2011 as vendas dos importados saltaram de 37,5 milhões para 72,7 milhões de litros, enquanto o produto nacional recuou de 21,9 milhões para 19,5 milhões de litros, apesar de uma lenta recuperação a partir de 2009. Para a indústria, os estrangeiros competem em condições desleais com os brasileiros porque gozam de vantagens tributárias na origem e o mercado doméstico também é inundado por produtos de baixa qualidade, subfaturados e contrabandeados.

Após a publicação da abertura do processo de salvaguarda no Diário Oficial da União os países atingidos terão prazo para apresentar defesa. Integrantes do Mercosul, Argentina e Uruguai não seriam afetados pelas eventuais medidas. Os argentinos supriram 22,9% das importações brasileiras de vinhos finos em 2011 e os uruguaios, 1,7%. O mais prejudicado, caso alguma salvaguarda seja efetivamente aplicada, será o Chile. Beneficiado por acordo que reduz a zero o imposto de importação de 27%, o país é o maior fornecedor de vinhos para o Brasil, com 36,6% de participação sobre as importações totais no ano passado e 37,2% em 2010, informa Benedetti.

Conforme o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Alceu Dalle Molle, a indústria defende a aplicação de salvaguardas por pelo menos três anos, renováveis por igual período. O prazo é necessário para a reconversão dos vinhedos e a produção de variedades mais nobres de uvas e para a modernização do parque industrial das vinícolas, com apoio dos governos federal e estadual. Com isso, o produto nacional terá maior competitividade, explica.

Benedetti acrescenta que as salvaguardas poderiam incluir preços mínimos aos importados, cotas e medidas tributárias. Segundo ele, Estados como Santa Catarina, Espírito Santo e Pernambuco oferecem redução de ICMS para produtos internalizados através de seus portos, garantindo vantagens extras aos vinhos estrangeiros.

O selo fiscal nas garrafas de vinhos e espumantes, obrigatório no varejo desde primeiro de janeiro deste ano (exceto para produtos adquiridos pelo comércio até 31 de dezembro de 2010), é "uma das ferramentas" no combate à avalanche de importados no mercado, doméstico explica Benedetti. O mecanismo inibe principalmente a comercialização de produtos contrabandeados (que não aparecem nas estatísticas), mas cerca de 35% das importações legais está isenta da exigência devido a liminar obtida pelas filiadas à Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (ABBA), calcula o presidente do conselho deliberativo da entidade, Adilson Carvalhal Júnior.

Com as eventuais medidas de proteção comercial, Dalle Molle prevê que a indústria brasileira pode equilibrar a disputa com os importados e alcançar 50% do mercado nos próximos anos. Segundo Benedetti, para isso seria necessário dobrar as vendas atuais do produto nacional. Ele revela que o país produz entre 45 milhões e 50 milhões de litros de vinhos finos por ano e que os estoques já alcançam cerca de três anos de produção, o que aumenta os custos financeiros das vinícolas locais.

Benedetti diz ainda que a situação do setor se agravou no fim do ano passado e no início deste com a desaceleração das vendas. Enquanto no acumulado de 2011 a demanda por vinhos nacionais cresceu 6,4% sobre 2010, no último bimestre houve queda de 1,5% ante igual período do ano anterior, para 3,4 milhões de litros. Já os importados, que tiveram alta de 2,4% de janeiro a dezembro, aceleraram nos dois últimos meses e cresceram 5,9%, para 16 milhões de litros.

Os dados de janeiro de 2012 ainda não estão disponíveis, mas segundo Daniel Salton, presidente da Salton, uma das maiores vinícolas do país, as vendas de vinhos finos em janeiro foram semelhantes às do mesmo mês do ano passado, depois de uma alta de quase 7% no acumulado de 2011 em comparação com 2010. Mesmo assim, Dalle Molle espera que a demanda pelo produto nacional cresça neste ano a uma taxa pelo menos igual à do exercício passado.

Fonte: Sérgio Ruck Bueno e Sérgio Leo (Valor Econômico)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

REUNIÃO DE 15/02/12

Prezados confrades Fulvio e Marcelo, parabéns pela realização da última reunião. A inovação foi sucesso total!!!

Abraços e até a próxima.

 

Ivo Ferreira.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Degustação às cegas no Business Club

A reunião de fevereiro da Confraria Liceu do Vinho ocorreu nesta quarta-feira (15) e o local escolhido pela dupla organizadora, Marcelo Baggio e Fulvio Augusto, foi o Centro Empresarial de Curitiba (Business Club). 
Unindo cardápio e serviço impecáveis do restaurante com a ótima escolha dos rótulos para degustação, a harmonização gastronômica foi perfeita.

Desta vez porém, houve uma inovação na reunião. Após tornar-se praxe a abertura das degustações com um vinho branco, nesta reunião a dupla decidiu testar a capacidade dos demais confrades em reconhecer as cepas e os países produtores aplicando uma degustação às cegas.

De início, foi servido um Chablis Premier Cru Beauroy 2009 do clássico Alain Geoffroy, um vinho que cativou a todos com seu ótimo buquê e delicioso frescor. Acompanhou muito bem a entrada de queijo grana padano e o primeiro prato: lombo de bacalhau com guarnição de brócolis. Após os participantes avaliarem e atribuírem notas às características do vinho, foi revelado o rótulo.


Na sequência, foi servido o segundo vinho da noite e primeiro representante dos tintos: Te Muna Road Pinot Noir 2008 produzido pela neozelandesa Craggy Range. Com seus 13,5% de graduação alcoólica e com corpo marcante para um Pinot Noir - características comuns para os vinhos do Novo Mundo - os confrades tiveram dificuldades em desvendar a cepa que é marcada, na maioria das vezes, pelo seu corpo leve. Porém, não se deve pensar que estas características, graduação e corpo, tornam este vinho agressivo e ruim, muito pelo contrário, ele é extremamente agradável e uma grata surpresa. Tudo bem que os francófilos vão dizer que, com isso, o vinho perde sua elegância mas estamos numa confraria cujo objetivo é proporcionar aos participantes as maravilhas dos vinhos, a diversidade de uvas e a diferença que elas apresentam de uma região produtora para outra e, por fim, imagine se todos os vinhos fossem iguais! Seria muito chato.  


O segundo tinto servido foi o chileno Amayna Pinot Noir 2009 da Viña Garcés Silva e, a exemplo do tinto anterior, a combinação corpo + graduação alcoólica colocou os confrades novamente em apuros na tarefa de reconhecer a uva utilizada. Encorpado e aveludado, este vinho obteve as melhores notas sendo eleito o melhor, tendo como critério apenas a avaliação do vinho.
Em seguida foi servido o segundo prato da noite: um filé com molho branco acompanhado de risoto de aspargos.


A noite precisava encerrar com estilo e, a dupla organizadora não deixou por menos e fechou a degustação com um Pinot da Borgonha Vosne Romanée 2006 do produtor Jacques Cacheux e - agora sim os francófilos salivaram - este vinho foi considerado por todos o melhor dentre os tintos na harmonização com os pratos servidos. Impressionante o equilíbrio (ok, ok, a elegância) deste vinho harmonizando perfeitamente tanto com o filé como também com o bacalhau.


Trabalhos encerrados, cardápio e degustação aprovados e o objetivo da reunião sendo plenamente atingido que era por fim ao "preconceito" com a uva Pinot Noir. Parabéns à dupla organizadora e que venha a próxima!


Premier Cru Beauroy 2009
Produtor: Alan Geoffroy
Região: Chablis (França)
Uva: Chardonnay
Graduação alc.: 13%
R$ 153,00 - Decanter


Te Muna Road 2008
Produtor: Craggy Range
Região: Martinborough (Nova Zelândia)
Uva: Pinot Noir
Graduação alc.: 13,5%
R$ 174,00 - Decanter


Amayna 2009
Produtor: Viña Garcés Silva
Região: Leyda (Chile)
Uva: Pinot Noir
Graduação alc.: 14,5%
R$ 100,00 - Mistral


Vosne-Romanée 2006
Produtor: Jacques Cacheux
Região: Côte de Nuits - Borgonha (França)
Uva: Pinot Noir
Graduação alc.: 13%
R$ 224,00 - Decanter

domingo, 5 de fevereiro de 2012